quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Há umas duas semanas envolvi-me em uma pequena polêmica com um fervoroso católico.



Ele dizia que a inquisição ocorreu SEM o conhecimento do Vaticano - ou, pelo menos, sem a aquiescência papal. Desafiou-me a mostrar minhas fontes e ainda perguntou a qual inquisição eu referia-me, à católica ou à protestante.

Foi um desafio interessante. Eu não conhecia a expressão "inquisição protestante", de modo que foi um verdadeiro aprendizado. Da mesma forma, fui atrás de fontes sobre a inquisição católica - outro verdadeiro aprendizado.

Após estudar esses temas, fiquei chocado: é espantoso, é escandaloso que alguém possa dizer, com seriedade, que o Vaticano não conhecia e/ou não autorizava o funcionamento da Inquisição, fosse em sua versão original, do século XII, fosse em sua versão absolutamente fanática, do século XV.

Desde o início o papado apoiou e incentivou a inquisição. É claro que diferentes papas conferiram diferentes ênfases ao tribunal, em alguns casos restringindo sua ação - mas em outros casos estimulando-a.

O sinal mais simples de que o papado apoiava a inquisição é o fato de que o mais ativo iniciador do tribunal criou uma ordem religiosa e depois foi santificado: Domingos de Gusmão, depois São Domingos, fundador dos frades pregadores, ou dominicanos. Aliás, os mais furiosos e fanáticos diretores da inquisição espanhola eram dominicanos (como Torquemada e seu sucessor).

Dito isso, não sei o que precisamente há por trás da afirmação inicial de que o papado não apoiava a inquisição. Seria um desejo de "inocentar" a igreja católica? De diminuir suas responsabilidades? De transferir a atenção de seus crimes e seus fanatismos, do catolicismo para os protestantes (que, de fato, não ficaram atrás dos católicos, embora sejam bem menos conhecidos)?

Em todo caso, não me parece haver aí desconhecimento ou ignorância; o que parece haver é desinformação, isto é, o desejo consciente de propagar informações erradas. Isso é muito sério e preocupante.

(Uma estratégia semelhante pode ser vista da parte justamente de um dos mais ativos denunciadores atuais da desinformação esquerdista - Olavo de Carvalho. Aliás, desinformação com prepotência.)

Gustavo Biscaia de Lacerda



Quando os cientistas políticos dizem que criamos no Brasil uma plutocracia política nas últimas décadas

Quando os cientistas políticos dizem que criamos no Brasil uma plutocracia política nas últimas décadas, isso fica mais claro nos gráficos ao lado. Trata-se da média e do intervalo de 95% de IC (o que exclui os outliers que distorcem a média) do patrimônio declarado por todos os candidatos que disputaram as últimas três eleições nacionais (2006, 2010 e 2014). As médias estão separadas entre candidatos derrotados e eleitos.
Perceba que em 2006 o patrimônio médio dos derrotados fica abaixo de R$ 1 milhão e dos eleitos acima de R$ 1,5 milhão. O intervalo entre os dois grupos se cruza, ou seja, os derrotados mais ricos tinham o mesmo patrimônio que os eleitos mais pobres.
Isso deixa de acontecer em 2010, quando o patrimônio médio dos derrotados mantém-se abaixo de R$ 1 milhão. Mas a média dos eleitos se aproxima de R$ 2 milhões e os intervalos já não mais se tocam. E em 2014 há o grande salto. Os derrotados continuam abaixo de R$ 1 milhão de média de patrimônio e os eleitos quase chegam a R$ 3 milhões, com uma variação maior. Apesar disso, os intervalos se distanciam ainda mais.
Se considerarmos a inflação do período (os valores são os declarados em cada ano eleitoral), é provável que o valor médio do patrimônio dos derrotados tenha caído.
Também é preciso considerar que a melhor qualidade nos controles da justiça eleitoral possa ter "estimulado" os candidatos a fazerem declarações de bens mais "precisas". No entanto, isso parece não valer para os derrotados.
É minha gente, criamos uma geração de políticos ricos com mais mandatos. E Políticos com mandato cada vez mais ricos.
Isso explica muita coisa, viu.


Emerson Urizzi Cervi