domingo, 21 de maio de 2017

Carta Aberta ao Senhor Joesley Batista


Prezado Senhor,

tomei a liberdade de escrever para o senhor mesmo sabendo que o senhor não me conhece, mas isto não vem ao caso. O não vem ao caso, com certeza lhe permitirá concluir que estou escrevendo de Curitiba, pois não vem ao caso é uma expressão muito usada por vizinhos ilustres e outras pessoas na cidade, principalmente aquelas que usam camiseta preta e estão acampadas numa praça, também pertinho de minha casa.
Vou lhe falar um pouco deles antes de entrar no assunto dessa missiva .
Os acampados não estão na praça porque pertencem ao MST, nem são moradores de rua, portanto fique tranquilo. São gente de classe média que se reveza no acampamento e estão lá porque apoiam uma famosa operação, que virou pó de traque (to traindo minha origem, desculpe senhor) depois que a Globo publicou suas conversas com um senador e o presidente da república.
Fico observando os que se revezam na praça e poderia lhe dizer que são rapazes fortões, com braço grosso (já pensou eles trabalhando no seu frigorífico, com certeza fariam bonito). As moças quase todas loiras de óculos escuros, corpos malhados e sapatos de salto alto(também fariam bonito trabalhando em suas empresas). Além dessa juventude linda, tem uns velhos com cara de aposentados, senhoras mães de família, gente portanto muito respeitável. Com certeza são ou foram todos trabalhadores e agora honestamente lutam pelo bem da republica de curitiba e do brasil, diante de tantas denúncias de corrupção. Esse brasil dos paranaenses, dos goianos e dos mineiros. Eu tô fora, eu sou gaúcho, e gostava muito do Seu Brizola, de mais a mais meu pai sempre me ensinou que a gente tem que ser honesto. Seu pai com certeza lhe disse isto muitas vezes e por isto o senhor é o empresário de sucesso que é. Deus salve seus esforços e cumule o senhor de bençãos.
Como gaúcho do interior que sou, queria lhe dizer que ando meio apertado, sem dinheiro para coisinhas básicas, como pagar as despesas com veterinário para meus gatos, comprar jornal velho para forrar o chão e a caixa de areia dos bichanos e também para comprar ração, não tem o que chegue para os dois. Como vi o senhor falando de sua generosidade, distribuindo um baita dinheiro até para desconhecidos, quem sabe o senhor me arruma uns pilas para cobrir essas pequenas despesas? Se não for pedir demais, gostaria que o Senhor pagasse o conserto das válvulas dos banheiros do Congresso e dos palácios do Planalto e do Jaburu, porque o cheiro tá brabo, dá pra sentir de longe. Deus lhe recompensaria com muitas graças por este pedido.
um grande abraço e que deus mantenha o senhor sempre em boa saúde, e com a guaiaca cheia, pois como o senhor sabe os homens generosos estão cada vez mais raros. Na espera de sua oferta me despeço com o coração saindo pela boca.

José Miguel Rasia

Antes que llamara

Antes que llamara y la carne me abriese,
que mis líquidas manos golpearan en el vientre,
yo, que era entonces informe como el agua
que formaba el Jordán junto a mi casa
era hermano de la hija de Mnetha
y hermana del gusano que gestaba la vida.

Yo que era sordo ante la primavera y el verano,
que no sabía los nombres de la luna y el sol,
ya sentía el latido bajo la armadura de mi carne,
aunque existía solo en forma de infusorio,
veía las plomizas estrellas, el martillo lluvioso
que mi padre balanceaba en su cúpula.

Conocía el mensaje del invierno,
los dardos del granizo y la nieve pueril
y el viento era mi hermana pretendiente;
en mí saltaba el viento, el rocío infernal;
y mis venas fluían con los climas de oriente;
antes que me engendraran supe el día y la noche.

Antes que me engendraran ya por cierto sufría;
el potro de tortura de los sueños
enroscaba mi osamenta de lirio
en una cifra viva,
la carne era cortada para cruzar los bordes
de las horcas en cruces sobre el hígado
y las zarzas de los cerebros estrujados.

Mi garganta conocía la sed antes de la estructura
de vena y piel alrededor del pozo
donde palabras y agua se entremezclan
sin pausa alguna, hasta pudrir la sangre,
mi corazón conocía el amor, mi vientre el hambre;
al gusano yo olía entre mis propias heces.

Después el tiempo envió a mi mortal criatura
a derivar o ahogarse en los océanos
habituados a la aventura de la sal
en las mareas que jamás tocan las orillas.
Yo que era rico, me hice más rico aún
sorbiendo poco a poco el vino de los días.

Nacido del espectro y la carne, no era espectro
ni hombre, sino espectro mortal.
Y luego me abatió la pluma de la muerte.
Fui mortal hasta el último suspiro prolongado
que llevó hacia mi padre
el mensaje de su agónico cristo.

Tú que te inclinas en la cruz y el altar
acuérdate de mí y apiádate de Aquel
que mi carne y mi sangre tomó por armadura
y llegó a traicionar el vientre de mi madre.

DYLAN THOMAS
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