domingo, 7 de maio de 2017

1954: Cessar-fogo na Indochina


Em 21 de julho de 1954, a França e a então República Democrática do Vietnã assinam um acordo de cessar-fogo, dividindo o país asiático em dois: o norte comunista e um frágil Estado pró-ocidente ao sul.

Saída dos tanques marcou fim da colonização francesa na Indochina

"O bom senso e a paz venceram." Com essas palavras, o então primeiro-ministro da França, Pierre Mendès-France, anunciou, em 21 de julho de 1954, o cessar-fogo na Guerra da Indochina. A derrota da "Grande Nação" na batalha de Dien Bien Phu, em maio do mesmo ano, fora o começo do fim do domínio colonial francês no Vietnã.

As negociações de paz em Genebra duraram quase dois meses. Além de representantes da União Soviética, da França, do Reino Unido e dos Estados Unidos, pela primeira vez desde a vitória do comunismo na China em 1949 diplomatas daquele país subiram ao palco da política internacional.

O Vietnã foi representado por duas delegações: uma defendendo os interesses da monarquia Bao Dai (sul) e outra com representantes da Liga pela Independência (Vietminh), liderados pelo primeiro-ministro Pham Van Dong, da República Democrática do Vietnã (norte).

Para ressaltar sua rejeição ao comunismo, o secretário de Estado norte-americano, John Foster Dulles, negou-se a estender a mão para seu colega chinês. "Somente um acidente de automóvel poderia me colocar em contato com Chou-En-lai", declarou à imprensa.

Garantia de soberania e unidade

Dulles permaneceu apenas quatro dias na conferência, da qual os norte-americanos participaram meramente como observadores. "Apenas tivemos a possibilidade de presenciar a tomada de decisões com as quais não concordávamos", disse mais tarde o diplomata Alexis Johnson, um dos observadores dos EUA.

Na declaração final do encontro, foram garantidas independência, soberania e unidade ao Camboja, ao Laos e ao Vietnã. A fronteira provisória entre o Vietnã do Norte (sob o regime comunista de Ho Chi Minh) e o Vietnã do Sul (monarquia independente encabeçada por Bao Dai) foi fixada aos 17 graus de latitude. Além disso, os signatários do documento comprometeram-se a realizar eleições gerais no Vietnã.

Numa declaração complementar, os EUA prometeram renunciar a qualquer intervenção militar no Vietnã. Era evidente, porém, que o Vietnã do Sul e os Estados Unidos jamais cumpririam os acordos, como explicou Johnson:
"A delegação sul-vietnamita deixou claro que não aceitaria a realização de eleições em dois anos.

Exatamente essa era também a nossa posição. Todas as acusações de que transgredimos os tratados negociados em Genebra são falsas. Nós não os assinamos; portanto, não tínhamos como transgredi-los."

Decisão só no campo político

A recusa dos EUA em assinar o cessar-fogo e a divisão do Vietnã foram para o então primeiro-ministro norte-vietnamita, Pham Van Dong, a prova de que os norte-americanos, desde o início, eram contra a conferência e sempre tentaram impedir que ela chegasse a uma conclusão positiva.

Mas também o Vietminh só aprovou os resultados da Conferência de Genebra devido à forte pressão da União Soviética e da China. A Liga pela Independência obteve unicamente a garantia de que a luta pelo poder no Vietnã não mais seria decidida pela via militar e, sim, no campo político. O Vietminh estava confiante de que venceria as eleições previstas para todo o país.

Todos os participantes da conferência para a paz na Indochina sabiam que as decisões de Genebra apenas representavam um armistício e não o fim do conflito. O presidente Dwight Eisenhower e seu secretário de Estado, John Foster Dulles, ligaram os Estados Unidos, em 1954, indissociavelmente ao destino do Vietnã do Sul.

Depois da derrota francesa em Dien Bien Phu, os EUA passaram a ocupar o lugar da França, no afã de garantir a segurança do Vietnã do Sul, do Laos e do Camboja. Com isso, os norte-americanos 
estabeleceram as bases para a intervenção posterior no mais longo confronto militar do século 20: a Guerra do Vietnã (1959-1975).

Autoria Michael Kleff (gh)


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1954: Queda de Dien Bien Phu



No dia 7 de maio de 1954, a guerra do Vietnã terminou para os franceses. Após oito semanas de sítio e fogo cerrado, as tropas francesas capitularam em Dien Bien Phu.

Após a fundação da União Indochinesa, no final do século 19, a França aproveitou os conflitos regionais e expandiu o seu domínio colonial a uma grande parte do Vietnã atual, ao reinado vizinho do Camboja e ao Laos. Porém, já na virada do século, aumentava a resistência entre a pequena elite cultural vietnamita contra a colonização sistemática.

Nos primeiros 40 anos do século passado, os franceses ainda conseguiram controlar uma população de 18 milhões de pessoas. Quando, em novembro de 1940, uma rebelião dos comunistas foi reprimida de forma sangrenta no sul do Vietnã, fundou-se então a Liga para a Independência do Vietnã, conhecida como Viet Minh, com participação decisiva do líder revolucionário e posterior chefe de Estado Ho Chi Minh.
Da resistência ao conflito armado

Foi só uma questão de tempo até que estourasse o conflito aberto entre os franceses, reivindicando direito sobre a "sua" colônia, e a aspiração de independência do Viet Minh. Em novembro de 1946, quando tropas francesas bombardearam a cidade portuária de Haiphong, no norte do Vietnã, o Viet Minh começou a resistir com mão armada ao domínio colonial francês em todo o país.

Apesar do apoio financeiro e logístico dado pelos EUA às tropas francesas, a partir do início de 1950 o Viet Minh já controlava cerca de dois terços do território vietnamita no final daquele ano.

No começo de 1954, 12 mil soldados franceses de uma tropa de elite foram cercados na região montanhosa e isolada perto de Dien Bien Phu, norte do Vietnã, pelas forças muito mais numerosas do Viet Minh. Apesar disso, o comandante-chefe francês Navarre acreditava que conseguiria vencer uma batalha decisiva.

Situação agrava-se

Em março de 1954, quando o Viet Minh intensificou seus ataques e as tropas francesas só podiam ser abastecidas por meio de paraquedas, Paris e Washington se conscientizaram da crise. O presidente norte-americano Eisenhower e seu secretário de Estado não queriam aceitar a derrota dos franceses. Contudo, um ataque aéreo teria provocado uma intervenção chinesa.

O presidente Eisenhower ressaltou diante da imprensa internacional, em 7 de abril de 1954, a gravidade da situação e a importância da Indochina para o seu país. Nessa entrevista, ele chamou de teoria do dominó a avaliação política exterior do conflito com o comunismo, em vigor na estratégia governamental americana desde 1950.

Eisenhower almejava uma coalizão dos EUA, entre outros, com o Reino Unido, a França e a Austrália, a fim de defender o Vietnã e todo o Sudeste da Ásia contra o comunismo. Porém, tais planos não encontraram apoio. Ele rechaçou, por sua vez, uma ação unilateral dos americanos, assim como uma intervenção somente ao lado dos franceses. A seu ver, os Estados Unidos ficariam então muito identificados com a política colonial francesa aos olhos da opinião pública mundial.

Selou-se assim o destino das tropas francesas em Dien Bien Phu, cuja derrota foi anunciada em Washington, no dia 7 de maio de 1954, pelo secretário de Estado norte-americano John Foster Dulles:

"Há algumas horas, caiu Dien Bien Phu. Sua resistência de 57 dias entrará na história como um dos maiores atos de heroísmo de todos os tempos. Os franceses e as forças nacionais de defesa impingiram graves perdas ao inimigo. Os soldados franceses provaram que estão dispostos e aptos à luta, mesmo sob as piores condições. O Vietnã provou que tem soldados com a capacidade necessária para defender o seu país."

A queda de Dien Bien Phu marcou não apenas o fim do domínio colonial da França no norte do Vietnã, mas também o começo da retirada francesa de toda a Indochina.

Autoria Michael Kleff (am)


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