quinta-feira, 30 de novembro de 2017

poema nos meus 43 anos

( Charles Bukowski)

terminar sozinho

no túmulo de um quarto

sem cigarros

nem bebida-

careca como uma lâmpada,

barrigudo,

grisalho,

e feliz por ter um quarto.

...de manhã

eles estão lá fora

ganhando dinheiro:

juízes, carpinteiros,

encanadores , médicos,

jornaleiros, guardas,

barbeiros, lavadores de carro,

dentistas, floristas,

garçonetes, cozinheiros,

motoristas de táxi...

e você se vira

para o lado pra pegar o sol

nas costas e não

direto nos olhos.




Figures


FIGURES (Jules Supervielle)

Je bats comme des cartes
Malgré moi des visages,
Et, tous, ils me sont chers.
Parfois l'un tombe à terre
Et j'ai beau le chercher
La carte a disparu.
Je n'en sais rien de plus.
C'était un beau visage
Pourtant, que j'aimais bien.
Je bats les autres cartes.
L'inquiet de ma chambre,
Je veux dire mon coeur,
Continue à brûler
Mais non pour cette carte
Q'une autre a remplacée :
C'est nouveau visage,
Le jeu reste complet
Mais toujours mutilé.
C'est tout ce que je sais,
Nul n'en sait d'avantage.

ROSTOS (Jules Supervielle / trad.: Carlos Drummond de Andrade)

Baralho a contragosto
Como cartas os rostos,
E todos me são caros.
Às vezes algum tomba,
Inútil procurá-lo.
Desaparece a carta.
Nada sei a respeito.
Entretanto era um rosto
Que eu amava, e tão belo.
Baralho as outras cartas.
O inquieto do meu quarto,
Ou seja, o coração,
A arder continua,
Não já por essa carta,
Por outra em seu lugar.
É um novo semblante.
E o baralho, completo,
Mas sempre desfalcado.
Eis tudo quanto sei,
E ninguém sabe mais.



segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Métricas de fator de impacto e seus efeitos. Antigamente as lideranças políticas surgiam de greves, enfrentamentos heroicos com a policia, organização das classes populares da periferia, militância em associações de classe e outras entidades naturais ou supranaturais etc. Hoje em dia, surgem de comentários e curtidas no Facebook, reverberações nas redes digitais e "presença na mídia". Resultado: em caso de exclusão de Lula, praticamente um dinossauro pelos padrões atuais, o segundo turno estará embolado entre Luciano Huck e Pedro Cardoso, com Bolsonaro e Fábio Porchat ou aquele-outro-que-esqueci-o-nome correndo por fora...

Sérgio Braga



Qualidade da democracia. Às vezes penso que o PSDB deveria deixar de ser um partido e se transformar num think thank. Isso porque o site do Instituto FHC é bem melhor que o do Instituto Lula, Lá se discute de tudo: China, feminismo, discurso do ódio, privatizações, infraestrutura, piruzaço pós-modernoso, dentre vários outros assuntos de interesse público. É claro que tudo se debate ao estilo massa-cheirosa catanhedista, mas eles não se limitam a tecer loas ao soberano, programas de sucesso da gestão PSDB como o bolsa família etc. .., e sabem como politizar o eleitor conservador inteligente.. Fica a dica para os cumpanheiro de como produzir ideologia o tempo todo sem se transformarem em doutrinadores baratos ou mascates de ilusões.
Sérgio Braga


O golpe de 2016 e o golpe de 1964 também podem ser explicados pela genealogia institucional da Faculdade de Direito da USP. Sem uma matriz de pensamento político e jurídico golpista, ainda que dissimulada e mesmo abertamente tramada nos bastidores, uma cultura golpista não pode surgir e prosperar. Michel Temer não apresenta genealogia familiar política golpista e sim uma genealogia institucional política golpista, uma genealogia em parte derivada da histórica Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, do Largo São Francisco – a Sanfran. O golpista Temer foi apenas mais um dos golpistas históricos daquela instituição, ao lado de gente como Luís Antônio da Gama e Silva, reitor da USP, ministro, redator e locutor do ditatorial Ato Institucional n° 5, em dezembro de 1968. Um dos primeiros cronistas daquele mundo jurídico, nas Arcadas, foi o próprio escritor Álvares de Azevedo, um mundo social desenhado pela pilantragem social e pelo golpismo político. A faculdade foi criada junto com a Independência e o Estado Nacional Imperial. Dos seus professores, diretores e pensadores resultam caminhos por algumas das mais profundas correntezas das famílias da classe dominante tradicional brasileira, situação observada em qualquer outra instituição brasileira tradicional de direito, muitas vezes aliando as leis, os privilégios, as falcatruas legalizadas, com o golpismo político, pelo menos uma vez a cada geração. Como pensar alguns dos egressos da Sanfran como Aloysio Nunes, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luciano Huck e o próprio Temer sem reconhecer um padrão político, uma mentalidade baixa, certo “habitus de classe” dentro do Brasil golpista, reprodutor dos privilégios e desigualdades sociais na nossa atual lama e miséria política ? Espero que o novo diretor da Faculdade, eleito há poucos dias, Floriano Peixoto de Azevedo Marques Neto, possa superar um pouco da cultura político-jurídica do golpismo naquele ambiente. Os diretores representam, em boa parte, outra aula sobre a genealogia de famílias antigas no Brasil. Eu sou parente do novo diretor pelo Capitão-Mor Manoel de Azevedo Marques, meu 6° avô e pela parentela do Visconde de Guaratinguetá, pelo ramo Oliveira Borges, de São Francisco do Sul. Um dos mais importantes diretores daquela faculdade foi o meu 4° tio-avô, Carlos Carneiro de Campos, 3° Visconde de Caravelas, de modo que não podemos pensar e entender essa instituição, sua cultura política, suas mazelas, que são as mazelas estatais do Brasil, sem o conhecimento crítico das genealogias.

RCO


sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Todo apoio aos técnicos e servidores ! Todos devem lutar agora pela universidade !

Nunca vi nenhum honrado dirigente universitário democraticamente eleito trair o seu compromisso com os princípios e bases da universidade pública. Nenhum reitor, diretor, chefe ou gestor anterior, desde que minimamente progressista, jamais entregou voluntariamente listas sobre participantes de movimentos grevistas em defesa das universidades. Ninguém ético e responsável deve obedecer irracionalmente ordens autoritárias e ilegítimas vindas de golpistas criminosos. Hannah Arendt já escreveu muito sobre se um gestor de boa fé deve apenas obedecer à hierarquia desconhecendo ordens da banalidade do mal, ordens ilegítimas e arbitrárias, de instâncias superiores. Negociar, sim, enfrentar, sim, dedurar, jamais. Cumprir ordens injustas e ilegítimas sem questioná-las apenas para subir na carreira burocrática, ou agradar os momentaneamente superiores, sempre terá consequências pessoais pesadas. Sempre ocorreram pressões de governos descompromissados com a educação e sempre foram derrotados no final. As universidades públicas sempre foram bastiões da mais alta qualidade acadêmica, da democracia e das lutas sociais pela inclusão. Há 35 anos como estudante e docente no sistema federal, desde a crise final da ditadura militar, conheço bem os espaços de resistência e como cientista social observo as greves, legítimas e legais, como manifestações essenciais da vida universitária contra a falta de recursos, o desmonte, a privatização e a tirania de políticos irresponsáveis em Brasília. Finalmente estamos entrando em um novo ciclo de lutas esperadas e necessárias para a sobrevivência das instituições universitárias. Quem tem mais de 20 anos de universidade se lembra do famigerado ministro Paulo Renato do impopular final de governo de FHC, do PSDB, quando Gilmar Mendes era da AGU, e como tentaram cortar o ponto de toda comunidade e quem teve que tirar habeas corpus preventivo foi o ministro tucano da deseducação. Hoje o nível da justiça brasileira é muito pior do que há 20 anos, mas as lutas e resistências ocorrerão. Vão ter que afastar todos os dirigentes democráticos de base e não terão a quem colocar nos lugares, ainda mais em um desgoverno golpista com a mais alta impopularidade e em clima de final de feira e de xepa desses golpistas. Todo apoio aos técnicos e servidores ! Todos devem lutar agora pela universidade !

RCO


1890: Criação da primeira central sindical da Alemanha


Após anos de proibição, em 1890 o imperador Guilherme 2º liberou a atividade sindical. Em 17 de novembro daquele ano, líderes operários aprovaram a criação de uma união sindical, fundada dois anos mais tarde.



No ano de 1878, o chanceler Otto von Bismarck promulgou as chamadas leis antissocialistas, após dois atentados contra o imperador Guilherme 1º e por temer uma revolução. Embora a validade dessa "lei contra os perigosos propósitos da socialdemocracia" tenha sido em princípio limitada a dois anos, sua vigência acabou por ser prorrogada diversas vezes.
Nesse período, foram proibidas também todas as atividades sindicais no país. Quem não podia ou não queria atuar ilegalmente, estava fadado ao exílio. Este foi o caso de Adolph Johannes von Elm, um exemplo típico de sindicalista social-democrata alemão do século 19. Ele emigrou para os Estados Unidos, onde viveu por 12 anos.

Fim da ilegalidade

Em 1890, a situação política na Alemanha mudou radicalmente em poucos meses. O novo imperador, Guilherme 2º, não estava mais disposto a tolerar um chanceler que pretendesse dar curso a sua própria política e promulgou, contra a vontade de Bismarck, leis de proteção ao trabalhador nos chamados Decretos de Fevereiro. Pouco depois, a 20 de março de 1890, quando a vigência das leis antissocialistas não foi mais prorrogada, Bismarck renunciou ao cargo.
Com a queda dessas leis, ficou relegado ao passado o tempo de ilegalidade dos sindicatos e das perseguições aos líderes operários. Mesmo assim, a discriminação social era grande em relação aos sindicalistas e social-democratas. Ainda no início do século 20, eles eram considerados na Alemanha "cidadãos sem amor à pátria". Apesar de sua atitude, o imperador não tinha qualquer simpatia pelo movimento trabalhista, o que ficava claro em seus pronunciamentos.

Em 1891, Guilherme 2º discursou aos recrutas de um regimento de guarda em Potsdam: "Há para vocês apenas um inimigo, e este é meu inimigo. Considerando as manobras socialistas em curso, pode acontecer que eu venha a ordenar que vocês atirem em seus parentes, irmãos ou pais. Que Deus não permita que isso aconteça, mas se for o caso vocês têm que obedecer sem reclamar".
Congresso de sindicalistas

O ano de 1890 foi o ano da arrancada da social-democracia e do sindicalismo na Alemanha. Pela primeira vez na história, sindicalistas puderam trabalhar livremente e sem medo de perseguições. Como vários outros, também Adolph Johannes von Elm voltou do exílio e retomou suas atividades políticas, tendo participado do primeiro congresso de sindicatos livres, realizado em novembro daquele ano na Alemanha.

Nos anos da ilegalidade, eram pequenas representações locais que lutavam pelos direitos dos trabalhadores. Essas associações de torneiros, marceneiros e pedreiros, entre outros, enviaram seus representantes para o primeiro congresso de sindicalistas, que aconteceu em Berlim. Também o movimento das mulheres trabalhadoras esteve presente ao encontro, através de sua representante Emma Ihrer, da cidade de Velten.

O principal ponto de discórdia girava em torno da estrutura da futura união sindical. Questionava-se se o melhor seria continuar trabalhando em pequenas associações locais de profissionais, ou se a melhor alternativa seria unir-se em uma grande organização central. No dia 17 de novembro, quando o congresso chegou a uma resolução final, os defensores da união haviam prevalecido.

A resolução definia: "Considerando que a organização local não corresponde mais às relações de produção e que a situação econômica de emergência dos trabalhadores requer a concentração de todas as forças, a conferência declara que a forma de organização centralizada apresenta-se no momento como a correta. A conferência aconselha por isso todas as associações locais a unirem-se à organização central em questão".

No entanto, a disputa entre centralistas e defensores das estruturas descentralizadas não foi com isso encerrada. Dé cadas se passaram até que fosse aceita a posição de que exatamente uma associação de trabalhadores necessita de uma união nacional forte e unida.

Para finalizar o encontro, foi formada uma comissão, que passou a ser responsável pela organização do próximo congresso: "A conferência elege uma comissão de sete membros que deverá elaborar as premissas do próximo congresso, definir seu local e data, bem como convocar os trabalhadores para dele participarem".

Entre esses sete membros, estava o representante dos trabalhadores em fábricas de cigarros, Adolph Johannes von Elm, e o presidente da Associação Nacional de Torneiros, Carl Legien, que se tornaria dois anos mais tarde presidente da primeira união sindical alemã.
LEIA MAIS

1892: Primeiro Congresso Sindical Alemão

No dia 14 de março de 1892, começou em Halberstadt, o Primeiro Congresso Sindical Alemão.
1878: A lei anti-socialista de Bismarck

No dia 18 de outubro de 1878, o chanceler imperial Otto von Bismarck aprovou uma lei proibindo os partidos social-democrata, socialista e comunista

Autoria Dirk Kaufmann (sv)


Link permanente http://p.dw.com/p/1Ngs


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Las cañas




Subías por el cañaveral
Tu cabello entrenzado
Tus ojos morunos
Tu boca de grana

Yo escondido entre las cañas
Miraba tus andares de sultana
El aire me envolvía con tu gracia sevillana
Nos abrazábamos, juntado tu mirada y mi mirada

Escondidos entre las cañas
Tus manos mis cabellos acariciaban
Yo satisfecho feliz contigo gozaba
Nuestra fuerza sexual compensada

Después nos bañábamos en el Guadalquivir
Sevilla nos embrujaba su cielo nos contemplaba
Sombreaban las cañas enamoradas
El rio alegre cantaba mientras nos acariciaba

Tú partías a tu casa tus hijos y marido te esperaban
En mi camino mis hijos aguardaban al colegio los acercaba
Así paso nuestra vida con pasión no apagada
Un día te espere con tu ausencia quede

Moría de dolor sin verte, de valor me arme
A tu casa me acerque, vestida de negro te encontré
La vergüenza me hizo bajar la cabeza
Sin palabras quede, gire la espalda, marche

Subía el sendero hacia mi casa ahogado de dolor
En la puerta, Elvira mi mujer con dulzura me abrazo
Me arrodillé y a sus pies solloce, ella me levanto
Me beso, me acompaño al portal, allí me confeso

Siempre te he amado Marcos has sido mi Dios
Mire sus ojos en lagrimados sin reproches
Los míos turbados indignos de su amor
Mi sangre negra como el carbón pedía perdón

Por la mañana me levante en el espejo me mire
Mis cabellos plateaban mis manos temblaban
Mi alma atormentada, toda una vida, Elvira engañada
Se terminó mi egoísmo era Elvira el ángel que se quedaría conmigo

Dolores Jurado 

DJ martes, 02 de agosto de 2011 9:45 h


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

A quem representam e de quem recebem

A grande mídia brasileira recruta, produz e financia verdadeiras aberrações profissionais, políticas e éticas. Tipos como Waack e agora um tal de Mario Vitor Rodrigues, ilustre desconhecido antes de ameaçar matar Lula ! Mais um crime da mídia semanal, a mesma que premiou as aberrações do judiciário, legislativo e executivo golpistas no ano passado. Como a teoria do nepotismo sempre explica quase tudo na nefasta política brasileira, o Mario Vitor Rodrigues é neto do jornalista Nelson Rodrigues, que pelo menos foi teatrólogo iconoclasta antes de virar a múmia reacionária de que se orgulharia. Cada semana um absurdo criminoso, preconceituoso, racista, excludente, violento, vindo da mídia golpista no Brasil, uma das pérfidas colunas de sustentação do "status quo" do golpe. A velha música dos Titãs, "bichos escrotos", explica a disputa na extrema direita entre jornalistas, publicitários e gente da mídia lutando diariamente para continuarem bem remunerados no "circo dos horrores" do Brasil golpista. Eles têm a desvantagem de não poderem aparelhar o judiciário e mamarem acima do teto, nem a caneta do orçamento, como as aberrações no legislativo e no executivo, logo devem ganhar, mês a mês, semana a semana, a vida pela sua capacidade de rasgar a ética do jornalismo e da vida social, para sempre internalizarem os valores e falas dos "podres poderes", a quem representam e de quem recebem muito dinheiro.
RCO


sexta-feira, 3 de novembro de 2017

And my soul from out that shadow that lies floating on the floor shall 
be lifted - nevermore!

E a minha alma, de fora, a sombra que flutua no chão, será levantada, nunca mais!

Edgard Allan Poe

Lament for Syria

 by Amineh Abou Kerech

Syrian doves croon above my head
their call cries in my eyes.
I’m trying to design a country
that will go with my poetry
and not get in the way when I’m thinking,
where soldiers don’t walk over my face.
I’m trying to design a country
which will be worthy of me if I’m ever a poet
and make allowances if I burst into tears.
I’m trying to design a City
of Love, Peace, Concord and Virtue,
free of mess, war, wreckage and misery.

*

Oh Syria, my love
I hear your moaning
in the cries of the doves.
I hear your screaming cry.
I left your land and merciful soil
And your fragrance of jasmine
My wing is broken like your wing.

*

I am from Syria
From a land where people pick up a discarded piece of bread
So that it does not get trampled on
From a place where a mother teaches her son not to step on an ant at the end of the day.
From a place where a teenager hides his cigarette from his old brother out of respect.
From a place where old ladies would water jasmine trees at dawn.
From the neighbours’ coffee in the morning
From: after you, aunt; as you wish, uncle; with pleasure, sister…
From a place which endured, which waited, which is still waiting for relief.

*

Syria.
I will not write poetry for anyone else.

*

Can anyone teach me
how to make a homeland?
Heartfelt thanks if you can,
heartiest thanks,
from the house-sparrows,
the apple-trees of Syria,
and yours very sincerely.

https://www.theguardian.com/books/2017/oct/01/the-13-year-old-syrian-refugee-prizewinning-poet-amineh-abou-kerech-betjeman-prize

The hollow men

Somos homens vazios
Somos homens empalhados
uns nos outros apoiados
cabeça cheia de palha, ai !
Forma sem feitio, sombra sem cor,
Paralisada força, gesto sem ação...

T.S. Elliot

Passeio a primeira neve

Passeio a primeira neve,
No coração os lírios forças inflamam,
A noite fixa azul
única estrela no caminho
Não sei se luz ou trevas ?
vento ou galo vibra adágio a floresta?
Em vez talvez do inverno nos campos
Serão cisnes tingindo verdes prados
Bonito que és, branco espelho de neve !
ferve-me o sangue a leve geada.
Desejo de apertar contra a pele
O seio em carne viva das bétulas
Ò bruma espessa da floresta !
Ó fresta dos trigais em neve !
Desejo de possuir pelo braço
o selvagem quadril das tílias.

Serguei A Essênin

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Eu achava que a política era a segunda profissão mais antiga. Hoje vejo que ela se parece muito com a primeira.


Ronald Reagan
Afirma-se que o pós-modernismo tem nos Shopping Centers as suas catedrais; suas igrejas são as Bolsas de Valores; os Bancos, suas capelas. Seus rituais são os grandes , multitudinários e milhardários concertos de rock. Seu latim é o inglês. Seus celebrantes são os cantores-instrumentistas, ajudados pelos coroinhas-engenheiros de som e luz. Seus mecenas são as grandes empresas multinacionais. Seus santos são Madonna e São Michael Jackson e Santa Lady Gaga. Esperam-se milagres para santificar a padroeira dos drogados, Santa Amy do Vinho Sagrado.


Raul Machado   

CRAVEIRA



Não deixa amor que o meçam, antes mede,
Incorrupto juiz que tudo afere
Na craveira da sua desmedida.
Chamados todos somos: só elege
Quantos de nós soubermos converter
Em chama vertical a hora consumida,
Em mãos de dar os dedos de reter.

José Saramago

fragmento 166

166. (Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa)

"Se considero com atenção a vida que os homens vivem, nada encontro nela que a diference da vida que vivem os animais. Uns e outros são lançados inconscientemente através das coisas e do mundo; uns e outros se entretêm com intervalos; uns e outros percorrem diariamente o mesmo percurso orgânico; uns e outros não pensam para além do que pensam, nem vivem para além do que vivem. O gato espoja-se ao sol e dorme ali. O homem espoja-se à vida, com todas as suas complexidades, e dorme ali. Nem um nem outro se liberta da lei fatal de ser como é. [...]

"Serei sempre, em verso ou prosa, empregado de carteira. Serei sempre no místico ou no não-místico, local e submisso, servo das minhas sensações e da hora em que as ter. Serei sempre, sob o grande pálio azul do céu mudo, pajem num rito incompreendido, vestido de vida para cumpri-lo, e executando, sem saber porquê, gestos e passos, posições e maneiras, até que a festa acabe, ou o meu papel nela, e eu possa ir comer coisas de gala nas grandes barracas que estão, dizem, lá em baixo ao fundo do jardim."


trecho do fragmento 166, do seu "Livro do desassossego", sob a alcunha de Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa:
"Não acredito em literatura latino-americana, acho este termo muito colonialista. Mas cada país do continente tem sua literatura, muito boa, por sinal."


Obs.: Quando de sua participação no júri do prêmio União Latina, em 1991. [ Jorge Amado ]

Eu, petista? Deus me livre!



O Temer baixou uma portaria que facilita o trabalho escravo, mas se você reclamar é petista. O Dória quer dar ração para crianças em creches e escolas, mas se questionar é petista. O Aécio disse que ia matar e foi salvo, mas é claro, se achar ruim é petista. As terras da Amazônia sendo entregues para os gringos e se for contra? Petista! Greve de professores? Greve dos correios? Dos bancários? Defesa da reforma agrária? Direitos das mulheres? Defesa da aposentadoria, então? Tudo petista.

Primeiro criaram o ódio ao PT, depois associaram o exercício da cidadania, o direito de questionar, de protestar e reclamar a "coisa de petista". Agora, fazem o que querem, roubam e compram deputados com bilhões e bilhões de reais do povo tranquilamente, legalizam a escravidão, perdoam dívidas de bancos e fazendeiros, entregam o petróleo, ferram com os trabalhadores sem nenhum pudor, pois no final das contas, ninguém quer ser "petista".

Diney Lenon


Acordo Sykes-Picot na origem do caos no Oriente Médio


Divisão entre franceses e britânicos de territórios do antigo Império Otomano firmada há cem anos, durante a Primeira Guerra Mundial, gerou tensões e conflitos que só se agravaram com a passagem das décadas.

Os cem anos do acordo Sykes-Picot

Há exatos cem anos, em 16 de maio de 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, a França e o Reino Unido partilharam entre si vastas áreas do Império Otomano, já antecipando a própria vitória e sem qualquer consulta aos habitantes da região. O tratado secreto dessa partilha ficou conhecido como Sykes-Picot, em alusão aos diplomatas que o negociaram, o inglês Mark Sykes e o francês François Georges-Picot.

Aos franceses caberia um território do sudeste da atual Turquia até o Líbano, passando pelo norte do Iraque e pela Síria. Os britânicos regeriam o sul e o centro do Iraque. As terras contidas entre esses dois territórios – englobando a atual Síria, a Jordânia, o Iraque ocidental e o nordeste da Península Árabe – seriam um reino árabe sob mandato anglo-francês.

Também a Alemanha desempenhou um papel pouco louvável nessa negociata. Aliada do Império Otomano, ela queria enfraquecer por meios militares os seus inimigos na Primeira Guerra. Juntamente com o califa de Istambul, autoridade religiosa suprema dos sunitas, os alemães conclamaram os árabes à jihad, a "guerra santa" contra os britânicos.

Estes, em contrapartida, selaram uma aliança com o xarife Hussein bin Ali, segunda maior autoridade religiosa depois do califa, na qualidade de guardião das cidades sagradas de Meca e Medina, na atual Arábia Saudita.

Domínio anglo-francês sob fachada árabe

Em outubro de 1915, Henry McMahon, alto comissário da Grã-Bretanha no Egito, fez uma oferta sedutora ao xarife Hussein: se os árabes apoiassem seu país, este os ajudaria a fundar seu próprio reino. "A Grã-Bretanha está pronta a reconhecer e apoiar a independência dos árabes dentro dos territórios nos limites e fronteiras propostos pelo xarife de Meca", declarava McMahon numa carta.

A aliança foi firmada. O líder dos árabes era o filho do xarife, Faiçal bin Hussein. Apoiado pelo agente britânico Thomas Edward Lawrence – conhecido como "Lawrence da Arábia" – ele conseguiu forçar a retirada dos otomanos.

Após o fim da Primeira Guerra, a nova ordem geopolítica no Oriente Médio foi negociada na Conferência de Paz de Paris, em 1919. Engajado pela causa árabe, Faiçal comentaria: "Estou confiante de que as grandes potências colocarão o bem-estar do povo árabe acima de seus próprios interesses materiais."
No entanto, ele se enganava. A França e a Grã-Bretanha se aferraram à divisão territorial já acordada: deveria haver Estados árabes, sim, mas sob influência anglo-francesa.

Como comentou o então ministro do Exterior britânico, George Curzon, a questão era ocultar os interesses econômicos de seu país atrás de uma "fachada árabe", "governada e administrada sob direção britânica, controlada por um maometano nato e, se possível, por uma equipe árabe".


 Mapa original do acordo secreto Sykes-Picot


Novos Estados, futuros conflitos

A importância dos pactos firmados durante a Conferência de Paris foi abrangente e de longo alcance. Além de resultar na fundação da Síria e do Iraque, um mandato da Liga das Nações ratificado em 1923 confirmava a criação de um novo Estado, o Líbano.
Outro mandato previa "o estabelecimento de um Lar Nacional para o povo judaico na Palestina", base para o futuro Estado de Israel. Em Paris, Faiçal declarara: "Eu asseguro que nós, árabes, não guardamos qualquer ressentimento étnico ou religioso contra os judeus, como o que infelizmente predomina em outras partes do mundo." Contudo, essa boa vontade logo fracassaria diante de uma realidade cruel.

Também em 1923, a Grã-Bretanha separou a Transjordânia da Palestina, criando as bases para a atual Jordânia. Já em 1899 os ingleses haviam transformado o Kuwait em seu protetorado. Após o fim da Primeira Guerra, o declararam "emirado independente sob proteção britânica".

Reflexos atuais

O resultado final de tais reviravoltas geopolíticas na região foi a série de guerras e conflitos que perdura até hoje: a crescente tensão entre israelenses e palestinos, ocasionalmente explodindo em guerras; a guerra civil libanesa de 1975 a 1990; a Guerra do Golfo; os choques, igualmente com características bélicas, nos territórios curdos da Turquia e do Iraque, mais tarde também na Síria.

Tudo isso culminou na fatal invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003. A má gestão que se seguiu endureceu os fronts de caráter religioso, redundando no nascimento da organização terrorista "Estado Islâmico" (EI). Além de ocupar territórios iraquianos, o EI se alastrou para a Síria, dilacerada pela guerra civil.

A rigor, nem todos esses desdobramentos remontam exclusivamente à divisão do Oriente Médio no início da década de 1920. No entanto, nessa época foi lançado o fundamento de uma nova ordem regional que se mostrou solo fértil para tensões geopolíticas, revoltas e guerras.



1917: Apoio britânico ao movimento sionista


Na chamada Declaração de Balfour, de 2 de novembro de 1917, o governo britânico dá aos representantes do judaísmo sionista apoio para a constituição de uma "pátria nacional" judaica na Palestina.


 Frankreich Geschichte Weltkrieg Friedensvertrag von Versailles (ullstein bild - histopics)

"Caro Lorde Rothschild, alegro-me em poder comunicar-lhe, em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia pelo movimento judaico-sionista, apresentada e aprovada pelo gabinete oficial: A construção de uma pátria para os judeus na Palestina é vista pelo governo de Sua Majestade com bons olhos.

Sua Majestade fará tudo o que for de seu alcance para facilitar os caminhos rumo a esse objetivo. Deve-se ressaltar, no entanto, que nada deve ser feito no sentido de prejudicar os direitos civis e religiosos dos povos não judeus que vivem na Palestina, ou de prejudicar os direitos e a situação política de judeus em algum outro país."

Esta carta, datada de 2 de novembro de 1917 e assinada pelo então ministro britânico do Exterior, Arthur James Balfour, prevê uma série de consequências para o Oriente Médio. Mas Lorde Rothschild e outros dirigentes da comunidade judaica, entre eles principalmente os sionistas no Reino Unido, esperavam ainda mais.

Há, no mínimo, 19 anos – desde o Congresso dos Sionistas em Basileia, em 1898 – eles ansiavam por uma promessa que assegurasse aos judeus o direito a seu próprio Estado, como havia planejado Theodor Herzl no seu livro O Estado Judeu.

Povo, não apenas comunidade religiosa

O sionismo político idealizado por Herzl partia do princípio de que os judeus são um povo e não apenas uma comunidade religiosa e de que as repetidas perseguições, pressões e desvantagens sofridas por esse povo poderiam ser evitadas com a fundação de um Estado judeu.

A localização desse Estado era ainda considerada de segunda ordem: cogitava-se a hipótese de enviar os judeus à Argentina, ou o chamado Projeto Uganda, que previa a fundação de um Estado judeu no território da Uganda, então administrado pelo Reino Unido.

Entretanto, a Palestina sempre voltava ao centro da discussão: a terra originária dos judeus, onde os representantes da comunidade judaica começaram a comprar terras e a estabelecer-se, a partir do fim do século 19. Em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, os judeus formavam apenas 15% da população da Palestina, na época de 690 mil habitantes. Destes, 535 mil eram muçulmanos, 70 mil cristãos e 85 mil de origem judaica.

A carta do chanceler Balfour refletia, porém, muito mais os interesses geopolíticos de Londres na região do que um apoio sem reservas do Reino Unido ao movimento sionista. A Primeira Guerra Mundial tinha eclodido, e a Inglaterra contava com o apoio dos judeus – tanto dos que viviam na Palestina, quanto dos que estavam espalhados por outros países do mundo – na luta contra o Império Otomano.

Por isso, Londres prometeu algo que não estava em condições de realizar: uma pátria para os judeus numa região que ainda não estava sob o seu controle.
Resistência palestina

A responsabilidade sobre o território palestino foi transferida para o Reino Unido somente no dia 24 de julho de 1922, sob a forma de um mandato da Liga das Nações. Parte da Declaração de Balfour pertencia ao preâmbulo do contrato que regia o mandato, o que se transformou logo num grande empecilho para a administração da região. A resistência dos palestinos árabes à imigração de judeus já tinha começado há algum tempo, crescia paulatinamente e levava, entre outros, a campanhas antijudaicas.

O Reino Unido, situado entre as duas frentes, tentava evitar a violência dos dois lados e limitar cada vez mais a imigração judaica para a região. Em 1939, ficou estabelecido que somente mais 75 mil judeus poderiam instalar-se na Palestina. Na época do Holocausto nazista, tratava-se de uma decisão completamente fora da realidade. A partir de 1944, o estabelecimento de judeus na Palestina foi oficialmente vetado, a fim de assegurar aos Aliados o apoio dos palestinos árabes na guerra.

Antes da transferência do mandato da Liga das Nações, em junho de 1922, o Reino Unido deixara claro que a Declaração de Balfour nunca fora uma resposta positiva à criação de um Estado judeu. O então ministro das Colônias, Winston Churchill, observou que a declaração não se referia a toda a região histórica chamada Palestina, mas apenas à margem ocidental do Rio Jordão (a Cisjordânia).

Churchill acentuou ainda que os ingleses nunca tinham pensado em conceder aos judeus o poder sobre os outros habitantes da região. A comunidade judaica que ali vivia deveria apenas poder desenvolver-se livremente.

Tais posições não puderam ser sustentadas por Londres durante muito mais tempo, uma vez que os conflitos entre árabes e judeus tornavam-se cada mais frequentes. Em 1947, a ONU deliberou a divisão da Palestina em dois Estados: um para os judeus e outro para os árabes. O Reino Unido abdicou do seu mandato em maio de 1948, quando foi proclamado o Estado de Israel.

Autoria Peter Philipp (sv)


Link permanente http://p.dw.com/p/1XAD

1938: Pânico após transmissão de "Guerra dos mundos"

No dia 30 de outubro de 1938, um programa de rádio simulando uma invasão extraterrestre desencadeou pânico na costa leste dos Estados Unidos.



Orson Welles ao microfone

Parecia uma noite normal naquele 30 de outubro de 1938, até que a rede de rádio CBS (Columbia Broadcasting System) interrompeu sua programação musical para noticiar uma suposta invasão de marcianos. A "notícia em edição extraordinária", na verdade, era o começo de uma peça de radioteatro, que não só ajudou a CBS a bater a emissora concorrente (NBC), como também desencadeou pânico em várias cidades norte-americanas. "A invasão dos marcianos" durou apenas uma hora, mas marcou definitivamente a história do rádio.

Dramatizando o livro de ficção científica A Guerra dos Mundos, do escritor inglês Herbert George Wells, o programa relatou a chegada de centenas de marcianos a bordo de naves extraterrestres à cidade de Grover's Mill, no estado de Nova Jersey. Os méritos da genial adaptação, produção e direção da peça eram do então jovem e quase desconhecido ator e diretor de cinema norte-americano Orson Welles. O jornal Daily News resumiu na manchete do dia seguinte a reação ao programa: "Guerra falsa no rádio espalha terror pelos Estados Unidos".

Pânico coletivo

A dramatização, transmitida às vésperas do Halloween (dia das bruxas) em forma de programa jornalístico, tinha todas as características do radiojornalismo da época, às quais os ouvintes estavam acostumados. Reportagens externas, entrevistas com testemunhas que estariam vivenciando o acontecimento, opiniões de peritos e autoridades, efeitos sonoros, sons ambientes, gritos, a emoção dos supostos repórteres e comentaristas. Tudo dava impressão de o fato estar sendo transmitido ao vivo. Era o 17º programa da série semanal de adaptações radiofônicas realizadas no Radioteatro Mercury por Orson Welles.

A CBS calculou, na época, que o programa foi ouvido por cerca de seis milhões de pessoas, das quais metade o sintonizou quando já havia começado, perdendo a introdução que informava tratar-se do radioteatro semanal. Pelo menos 1,2 milhão de pessoas acreditou ser um fato real. Dessas, meio milhão teve certeza de que o perigo era iminente, entrando em pânico, sobrecarregando linhas telefônicas, com aglomerações nas ruas e congestionamentos causados por ouvintes apavorados tentando fugir do perigo.

O medo paralisou três cidades e houve pânico principalmente em localidades próximas a Nova Jersey, de onde a CBS emitia e onde Welles ambientou sua história. Houve fuga em massa e reações desesperadas de moradores também em Newark e Nova York. A peça radiofônica, de autoria de Howard Koch, com a colaboração de Paul Stewart e baseada na obra de Wells (1866-1946), ficou conhecida também como "rádio do pânico".

Precursor da ficção científica moderna

O roteiro fora reescrito pelo próprio Welles (1915-1985). Na peça, ele fazia o papel de professor da Universidade de Princeton, que liderava a resistência à invasão marciana. Orson Welles combinou elementos específicos do radioteatro com os dos noticiários da época (a realidade convertida em relato).

Herbert George Wells, por sua vez, foi um dos precursores da literatura de ficção científica. O livro A Guerra dos Mundos, publicado em 1898, era uma de suas obras mais conhecidas, tendo Londres como cenário. Ele escreveu num estilo bastante jornalístico e tecnologicamente atualizado para sua época. A transmissão de A Guerra dos Mundos foi também um alerta para o próprio meio de comunicação "rádio".
Ficou evidente que sua influência era tão forte a ponto de poder causar reações imprevisíveis nos ouvintes. A invasão dos marcianos não só tornou Orson Welles mundialmente famoso como é, segundo cientistas de comunicação, "o programa que mais marcou a história da mídia no século 20".

Autoria Jens Teschke (gh)



Link permanente http://p.dw.com/p/40hx