sábado, 10 de junho de 2017

Depois da implosão das grandes religiões institucionalizadas

Depois da implosão das grandes religiões institucionalizadas, restou-nos a autoajuda, a religião do capitalismo tardio, o simulacro religioso da pós-modernidade. Aqui não há opressão (nenhum faraó a ser vencido, nenhuma Babilônia a ser derrubada), nem mesmo pecado (pois se houvesse havia o risco de se atribuí-lo aos detentores do capital). Aqui há só que mentalizar de maneira correta e dizer as palavras certas -- e a portas do sucesso (profissional, financeiro, sexual) se abrirão de par em par para você. Há nessa nova religião algumas palavras-chave: foco, empreendedorismo e uma série de termos em inglês, o latim litúrgico do novo rito. Se o calvinismo, segundo Max Weber, foi a religião da aurora do capitalismo, a autoajuda é seu sucedâneo nesses tempos de decadência hipermoderna. Nada de virtude, nada de morigeração, nada de sacrifícios. O paraíso é agora. O céu está ao alcance de um clique. Basta mudar sua forma de pensar e de falar. E se não der certo? Aí azar o seu, meu irmão. Também não há misericórdia nessa religião. Nem purgatório. Só o inferno dos derrotados.

Otto Leopoldo Winck


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