domingo, 12 de março de 2017

O Aleph

"Então vi o Aleph. [...] começa aqui o meu desespero de escritor. Toda linguagem é um alfabeto de símbolos cujo exercício pressupõe um passado que os interlocutores compartem; como transmitir aos outros esse infinito Aleph, que minha tímida memória mal e mal abarca? [...] Mesmo porque o problema central é insolúvel: a enumeração, sequer parcial, de um conjunto infinito. Nesse instante gigantesco, vi milhões de atos agradáveis ou atrozes; nenhum me assombrou mais que o fato de que todos ocupassem o mesmo ponto, sem superposição e sem transparência. O que meus olhos viram foi o simultâneo; o que transcreverei será sucessivo, pois a linguagem o é. Algo, entretanto, registrarei."
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“Entoces vi el Aleph. [...] empieza, aquí mi desesperación de escritor. Todo lenguage es un alfabeto de símbolos cujo ejercicio presupone un pasado que los interlocutores comparten; ¿como transmitir a los otros el infinito Aleph, que mi temerosa memoria apenas abarca? [...] Por lo demás, el problema central es irresolubre: la enumeración, siquiera parcial, de un conjunto infinito. En ese instante gigantesco, he visto millones de actos debitables o atroces; ninguno me assombro com el hecho de que todos ocupan el mismo punto, sin superposición y sin transparencia. Lo que vieron mis hojos fue simultâneo: lo que transcrebiré, sucesivo, porque el lenguage lo es. Algo, sin embargo, recogeré.”


- Jorge Luis Borges em "O Aleph" - Obras Completas Vol., [tradução Flávio José Cardozo]. São Paulo: Globo, 1998, p. 695.

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